Fui vítima de Bullying como tantos outros que provavelmente convivem com você em seu cotidiano. O que difere por agora é meu desejo de não mais permitir que esse constante e velado abuso permaneça no silêncio que hoje vejo, contribuir para um gradual e tenebroso aumento de ocorrências de ações que imprimem na identidade de milhares de jovens, letras de morte, desesperança e assombros que furtam o desejo de viver.
Desde muito cedo sentí o ocre sabor do abuso constante que me emprestou um nível absurdo de ódio que hoje não sei sequer se de fato seria possivel em meio à infância. Sentimento plantado por dois grandes nomes do Sadismo naquela cidade.
O primeiro, amigo de um dos primos que tinha naquela cidade, me percebendo mesmo a distância dava início a sucessivas humilhações porque acreditava que o tamanho de minha cabeça era diferente. Todos os tipos de apelidos, imitações, ameaças e agressões que cessavam somente na medida em que percebia-me imerso na mais profunda tristeza que não raras vezes transpareceu em calças molhadas de ódio.
O segundo, vizinho da frente. Fétido obeso que escondia suas tristezas complementando o que o primeiro dava início, porém, com uma habilidade distintamente animalizada.
Traduzia seu terror em uma presença ameaçadora que sorria frente ao medo que impunha no peso de punhos que jamais entendí porque me batiam, afinal, o peso da mão nao me parecia (por mais que tentasse aceitar) resultado natural de minha presença. Somando ao peso da mão, a habilidade de convencer grupos inteiros a seguir a selvageria que propunha, fez-me pensar para além da sobrevivência e da busca por uma dignidade que jamais percebí em toda minha infância.
Engraçado como agora escrevendo a respeito, consigo vislumbrar a razão de nunca ter entendido tantos vídeos e canções que exaltam na televisão, uma fase que em tese seria cheia de magias, aventuras e descobertas... para mim pesadelo, aprisionamento e violência.
Sorri quando soube que o primeiro perdera o irmão durante um simples jogo de futebol. A tristeza estampada no rosto do moço de franja, desconsolado por uma morte injusta, alimentou por alguns instantes a alegria de quem materializava na frente deste...a injusta e cotidiana morte que sempre produzia. Eu tinha oito anos.
Aos trinta anos, relembrando os sabores de uma identidade perdida, percebo seu reencontro no abraço à dor do outro. De militar, tornei-me professor por escolha. Alimentado por um desejo ímpar de ensinar o amor, a tolerância, a paz, a acolhida e o respeito, principalmente junto aos estigmatizados pelo que se faz da deficiência. Tive a chance de tocar as vestes de alguém que estancou em mim uma profunda hemorragia e ao olhar-me nos olhos, me convidou a segui-lo.
Transformou o que era ódio em mim em um profundo desejo de amar, levando a cada ser humano, a informação que devolve a cada um o seu lado mais humano. Deu voz onde havia silêncio, vida onde havia morte, esperança para ser semeada no cotidiano esforço para que jovens amem mais. É o meu Senhor que faz superabundar graça mesmo onde ela parecia não existir.
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