Sobre Introdução à Vida Cristã
Percebo que este tema tem visitado intensamente meus pensamentos e me movido a algo mais desde minha experiência pessoal com Jesus.
A questão de maneira geral, é uma preocupação profunda com o que passei a chamar de 'alfabetização católica' e que a meu ver, vem afastando diariamente centenas de pessoas que mesmo no esforço de tentar entender o que se passa nas missas (esforço este por vezes alimentado tão somente pela tradição), acabam naturalmente seguindo três caminhos: ou a resignação total, que preserva somente os corpos de sujeitos ou mesmo familias inteiras no interior de catedrais imensas durante as missas, ou a busca pelo significado que falta, em tantos outras denominações cristãs ou finalmente o que posso afirmar com bastante propriedade, a total desistência.
Para entender o que se passa bem como a natural espera por estes três caminhos, imagine-se na seguinte situação: você cresce ouvindo e vendo como a escola é importante, como ela tem um papel propiciador de maiores caminhos para uma vida melhor, para a apropriação dos bens culturais e consequentemente melhores oportunidades de uma vida mais recheada de boas notícias, mas, ao adentrar o espaço escolar, passa por anos seguidos apenas assistindo a alguma coisa que está acontecendo mas que não sabe exatamente definir o que..., sem interação para além de um aperto de mão na hora determinada pela professora... e quando finalmente lhe chega o momento de aprender a ler para partilhar do que você esteve até então convencido ser a 'festa da educação', tem acesso a um deficiente e desastroso período de formação que se arrasta por seis anos consecutivos e que não lhe traz nada além de um ciclo trivial de mitos em nada compreendidos por esforçados mestres que pouco assistidos, acabam transformando a catequese (forma como chamamos a transmissão da fé católica) em espaço de fuga em um mundo que pouco lhe percebe.
Fora o medo ou o desejo de preservar uma tradição familiar, o que mais lhe prenderia neste espaço religioso? O abandono, a fuga ou a resignação não seriam naturais?
Pois bem, por mais doloroso que seja, é exatamente o que sinto acontecer no histórico e santo espaço de santificação que tanto amo: a igreja católica apostólica romana.
Mas não me limito aqui a apontar a ferida que bravamente persiste. Antes penso que refletindo sobre sua presença, posso partilhar, construir e desconstruir o que for necessário para o novo. Somemos forças neste intento de uma nova história que indiscutivelmente é capaz de restaurar famílias, dons, ardores e principalmente uma paz corroída pelo pseudo-racionalismo que contemporaneamente vem se confundindo com o sucesso e o consumo em nome de uma liberdade transformada em produto de mercado.
O pequeno texto que apresentei referindo-me à escola retrata algo comum na igreja, ou seja, o analfabetismo católico. É contra ele que devemos lutar mas sem entremeios ideológicos, discursos ou panfletos...é preciso uma ação significativa, integrada e responsável.
Começando por reconhecer de fato a catequese como fundamento indispensável à construção da fé cristã, e isto significa não outra coisa senão:
a) Cuidado especial com o espaço de acolhimento das crianças, dos jovens, dos adultos, enfim, de toda comunidade aprendente. Uma criança que não tem um espaço pensado para ela (cadeiras, mesas, cores...), não vai desenvolver o sentimento de pertença, logo, o catolicismo começa desde cedo a ser vivenciado como algo para outros e não para a criança.
b) Cuidado especial com a formação dos leigos que se dedicam à catequese, para além de esporádicos encontros de orientação, o que significa por exemplo em oferta de cursos de Teologia. Aqui ressalto uma das grandes preocupações do clero que acaba se resumindo na afirmação de que seriam pouco aproveitados pelos catequistas ou mesmo "improvável" visto os custos que este curso geraria. Se de fato ocorrerem estas arguições, sugiro ainda mais completa revisão dos princípios em que nos fundamentamos para pensar a catequese, pois se não indentificamos esta passo como investimento, é certo que os resultados que tanto esperamos (metafísicos por excelência) pouco serão alcançados e por profunda negligência.
c) Cuidado especial com a organização administrativa da catequese que se apresenta em tantos lugares de maneira absolutamente sofrível. Não é raro percebermos a existência de um profundo descuido com esta questão que comumente é interpretada como natural visto que catequese é diferente de escola...
Entendo a argumentação bem como a preocupação que a edificou, mas a interpretação foi deveras equivocada e transformou-se em uma irresponsável desatenção com a organização que reflete na formação e consequentemente na espiritualidade de toda a comunidade. Entendo em primeiro lugar, que a catequese é sim uma escola. Escola da fé, pois tente você medir o tempo de duração de sua fé deixando de lado a informação e a razão, produtos edificados no conceito "escola" que é espaço socialmente eleito para tal. Em segundo lugar, sendo escola e de seres humanos, carece de organização que deveria ser naturalmente inspirada na hierarquia da igreja que como sabemos, foi edificada por Nosso Senhor contribuindo assim para sua inequívoca manutenção em toda a história da humanidade que assistiu a uma infinidade de quedas. De maneira prática, quero dizer que não é dificil encontrarmos catequistas desprovidos de referência, acabando por concentrar em si, tantas funções (matricula, transferência, aceitação, controle de presença...) que fazem tudo menos o essencial. Não é raro também, percebermos a eleição de pseudo-coordenadores, cuja boa fé se esvai diante de um clero ditatorial, que entende ter poder suficiente para determinar aquele que deve 'formar-se' em dois anos, um ou três... baseando-se muitas vezes na participação dos pais nos eventos paroquiais, ou seja, um verdadeiro atentado à gestão racional.
d) Cuidado especial com o objetivo da catequese, o que significa termos coragem de nos perguntarmos o que de fato queremos alcançar em cada uma das etapas de formação. Por que não definirmos os objetivos bem como o conteúdo programático próprio a cada momento? Por que não pensarmos em Diretrizes Curriculares? A definição a este respeito permitiria segurança e unidade na tomada de decisões em todos os lugares do país! A falida argumentação a este respeito dirá que somos um país diverso e precisamos dar conta das especificidades. Sim, concordo, mas como conseguimos fazê-lo por exemplo no direcionamento da liturgia em todos os cantos do mundo?
Enfim, relato nesta reflexão ainda não concluida as primeiras impressões que tenho ao pensar na razão pela qual minha amada igreja assiste a uma imensa quantidade de pessoas que tem restringidas as possibilidades de um encontro pessoal com Cristo, transformando este momento em mero formalismo dominical, bem como os caminhos que devemos seguir para sua superação. Retomaremos a discussão...